
O
procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato, postou um longo texto no
Faceboook com sua opinião sobre a nomeação de Sergio Moro para o Ministério da
Justiça.
Segundo
ele, Moro aceitou o convite por um bem maior: “consolidar os avanços da Lava
Jato e avançar contra o crime organizado”.
Leiam
a íntegra:
“A
foto é emblemática: o pacote das Novas Medidas Contra a Corrupção estava em
suas mãos na viagem ao encontro do presidente eleito. O juiz Sergio Moro vai ao
Ministério da Justiça por um bem maior: consolidar os avanços da Lava Jato e
avançar contra o crime organizado, problemas extremamente preocupantes no nosso
país, assim como defender o fortalecimento da democracia, que é pressuposto da
luta contra a corrupção.
Minha
avaliação pessoal – não estou falando neste post pelas equipes que trabalham na
Lava Jato, que podem ter diferentes visões desse assunto – é de que a decisão é
bastante positiva para a causa anticorrupção e para o país.
Em
inúmeras entrevistas, sempre ressaltei que o ambiente de leis favoráveis à
corrupção ainda é o mesmo de antes da Lava Jato: prescrição, nulidades,
lentidão e penas lenientes favorecem a impunidade. A mensagem do sistema de
justiça criminal é de que a corrupção compensa e inúmeros casos do passado
provam isso. Nada das leis que favorecem a impunidade mudou até hoje. O que
houve foi um caso que fugiu da curva da impunidade, a Lava Jato. Além disso, há
muito espaço para avançar contra a corrupção em outras frentes: recuperação de
valores, transparência, melhoras no sistema político e eleitoral, incentivo ao
compliance, proteção do whistleblower, fortalecimento do controle interno e
externo e assim por diante. Tudo isso precisa ser feito e o Ministro da Justiça
tem uma posição privilegiada para articular essas mudanças.
Além
disso, há muito tempo falo que, hoje, é mais importante para o país mudar o
ambiente que favorece a corrupção do que futuros resultados da Lava Jato. Há
muitas propostas substanciais, como as 10 Medidas e as Novas Medidas, que
poderão ser apreciadas, aperfeiçoadas e aprovadas. É preciso criar um ambiente
fértil para que a corrupção não aconteça e para que operações contra a
corrupção possam crescer e frutificar em cada cidade onde há esse problema.
Como
Ministro da Justiça, o juiz Sergio Moro poderá impactar ainda órgãos muito
importantes para o controle da corrupção, como a Polícia Federal, a CGU e o
COAF, ampliando sua influência positiva dos casos em Curitiba para todo o país.
Neste
momento, precisamos fazer uma análise crítica dos ataques que estão surgindo
contra a reputação do juiz e da Lava Jato, como aqueles que acusam o juiz de
ter, desde sempre, aspiração política. Isso é ridículo. Se o juiz Sergio Moro
tivesse aspiração política, ele poderia ter se tornado presidente ou senador
nas últimas eleições com alta probabilidade de êxito. Mentiras como essa serão
repetidas, como outras já usadas no passado, mas não vão abalar a Lava Jato, em
que atuam não só um juiz, mas 14 da primeira à última instância.
A
imparcialidade dos atos e decisões são garantidos pelo próprio sistema
recursal.
O
que vejo é sim uma pessoa que já demonstrou, com árduo trabalho, elevada
qualidade técnica e muito sacrifício pessoal ao longo de 4 anos, que se somaram
a uma trajetória pretérita respeitada, o seu comprometimento com o interesse
público, com o serviço à sociedade e com o país. Vejo ainda o aproveitamento de
uma oportunidade pelo juiz para dar o seu melhor a fim de construir uma
sociedade com mais justiça social, mais democracia e mais segurança, assim como
menos corrupção, menos impunidade e menos crime organizado.
Aqui
em Curitiba, a Lava Jato seguirá com outros magistrados. Há ainda bastante por
fazer e será feito. Perde-se o grande talento de um juiz, mas a maior parte da
equipe seguirá firme lutando contra a corrupção, como profissionais, na
operação, e como cidadãos.”
O ANTAGONISTA
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