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Rita Mercês foi presa na Operação Dama de Espadas (Foto: Sérgio Henrique Santos/Inter TV Cabugi)
Por Igor Jácome/G1/RN
Os presidentes
da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte usaram os cargos da Casa para
comprar apoio dos deputados estaduais em votações de interesse próprio. O
esquema teria acontecido entre 2006 e 2015. Isso é o que diz a
ex-procuradora-geral da Casa, Rita das Mercês Reinaldo, que fechou acordo de
delação premiada com o Ministério Público e deverá repetir as mesmas
informações em depoimento à Justiça, marcado para o fim deste mês. O G1 teve acesso à delação nesta semana.
O acordo de
delação foi fechado em decorrência da Operação Dama de Espadas, deflagrada pelo
Ministério Público em agosto de 2015. A investigação abrange as administrações
do deputado Ricardo Motta e também do governador Robinson Faria, quando eles
estavam na presidência da Casa Legislativa do Estado.
O G1 procurou o advogado de Robinson Faria, mas não
conseguiu contato. No entanto, a assessoria de Comunicação do Governo do Estado
enviou nota, em que diz que “O Governo do RN não irá se pronunciar sobre temas
relacionados à operação Dama de Espadas, por se tratar de assunto já explicado
à exaustão ao longo dos últimos três anos, de âmbito pessoal e anterior ao
cargo de governador”
Os advogados de
Ricardo Motta disseram que o deputado vai se manifestar nos autos do processo,
e que “a delação não trouxe nenhum elemento novo de prova e que será comprovado
que não houve nenhum dos fatos ali narrados e que a simples palavra do
colaborador deve ser provada de forma cabal e não apenas por presunção”.
A delação foi
homologada pelo ministro Edson Fachin, e o processo corre no Supremo Tribunal
Federal (STF), porque há investigados que têm foro privilegiado.
Em seu
depoimento, Rita das Mercês afirmou que todos os deputados sabiam do esquema.
“O esquema, todos os deputados sabiam de como era a questão dos laranjas, dos
fantasmas, porque isso é público e notório diante da Assembleia que o gabinete,
que é mínimo, não cabe 60, 70 pessoas indicadas pelo deputado”, declarou.
Além de
deputados, segundo a ex-procuradora, cargos foram ocupados por indicação de
desembargadores do Tribunal de Justiça do RN, conselheiros do Tribunal de
Contas, ex-governadores, deputados federais e senadores, além de prefeitos e
vereadores de Natal e de cidades do interior, que também se beneficiariam financeiramente.
A maior parte
dos cargos ficava com os deputados estaduais em exercício. “Geralmente, quando
tinha uma votação de interesse do presidente, as vezes do Executivo, alguns
deputados negociavam não eram nem cargos, eram valores que eram distribuídos em
cargos. O deputado dizia: eu preciso de mais R$ 30 mil. Então esses R$ 30 mil
eram distribuídos em cargos comissionados, gratificações”, afirmou Rita das
Mercês.
De acordo com
Rita, as vagas pertenciam à estrutura organizacional da Assembleia e eram
negociadas pelo presidente de acordo com a “necessidade”. “Com Robinson
aconteceu várias vezes, essas negociações. Tanto na reeleição quanto nas
aprovações de projeto de lei. Mas aparecia mais essas negociações quando da
reeleição do cargo para presidente. Ele foi presidente quatro vezes”,
ressaltou. “Sempre que havia eleição para presidente, era uma nova negociação
com os deputados”.
Ainda conforme
a delação de Rita das Mercês, após as nomeações dos servidores ela recebia as
informações para alimentar uma planilha com os nomes dos “fantasmas” e quem os
tinha indicado. Em alguns casos, porém, ela afirma que não era possível saber
quem era o autor da indicação. A planilha foi entregue pela delatora aos
procuradores do Ministério Público.
“A
coordenadoria de Recursos Humanos fazia os atos, as portarias, e depois ela me
informava, porque o presidente, quando necessitava saber quanto um deputado
tinha... Por exemplo, o deputado fulano de tal exigia mais dinheiro. Ai o
presidente precisava saber quanto o deputado já tinha em folha. A gente tinha
que informar”, disse.
Judiciário na delação
Nas planilhas
de Rita das Mercês não constam nomes apenas de deputados. Desembargadores do
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, magistrados que ocupam o mais alto
cargo do judiciário estadual, também estariam envolvidos na indicação de
servidores fantasmas do Poder Legislativo. Em contrapartida, deputados também
indicavam pessoas para cargos no Judiciário, de acordo com a delatora.
Pelo menos oito
dos 15 desembargadores ativos e dois aposentados contavam com cargos no
Legislativo. Conforme Rita das Mercês, parte dos servidores indicados pelos
magistrados trabalhava no Legislativo. Outros não. Questionada pelo MP sobre o
motivo dessas indicações, Rita afirmou que acreditava ser para manter um “bom
relacionamento com os representantes do Poder Judiciário do Estado”.
Deputados com cargos na Justiça
Da mesma forma
que desembargadores teriam feito pedidos aos deputados para inclusão de pessoas
ligadas a eles na folha de pessoal da Assembleia, parlamentares teriam feito
indicações para cargos no Tribunal de Justiça. A delatora afirmou que ouviu
falar de indicações de deputados, mas confirmou apenas uma de que tinha
conhecimento.
De acordo com
Rita, ela indicou uma neta por sugestão do deputado Ricardo Motta (PSB). Porém,
houve uma condição: metade do salário ficaria com o próprio deputado. “Ele
chegou na minha sala, disse que tinha um cargo e se eu tinha alguém para
indicar, por que ele não tinha de nível superior. E eu falei que tinha uma neta
e indiquei. Ele disse que a metade do salário era dele”, disse aos
investigadores.
Fonte: G1/RN
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